Depoimento 4 - Professora Josiane Donizeti Morais de Oliveira
Falar sobre o meu primeiro contato com a leitura fez-me viajar no tempo e reportou-me para a fazenda onde fui criada, a fazenda Embiruçu, próxima a Jardinópolis, aqui mesmo no Estado de São Paulo. Meus pais eram colonos dessa fazenda e vivemos lá por muitos anos. Na verdade, passei toda a minha infância e o início de minha adolescência na fazenda em questão.
Falar sobre o meu primeiro contato com a leitura fez-me viajar no tempo e reportou-me para a fazenda onde fui criada, a fazenda Embiruçu, próxima a Jardinópolis, aqui mesmo no Estado de São Paulo. Meus pais eram colonos dessa fazenda e vivemos lá por muitos anos. Na verdade, passei toda a minha infância e o início de minha adolescência na fazenda em questão.
Naquela época, era
muito comum haver escolas nas propriedades rurais para que os filhos dos
colonos pudessem estudar e, em alguns casos, os filhos dos patrões também. E
essa foi a minha realidade, estudávamos na fazenda todos juntos, “a plebe e a
nobreza”. A escola chamava-se “E.E.P. G Embaixada da Fazenda Embiruçu” e
tínhamos como professora a Dona Maria Ida Prioli, uma mulher severa, porém
doce.
Foi lá nessa escola e
com a Dona Ida, como era chamada nossa professora, que se iniciou o meu
processo de alfabetização. Era comum naquele tempo matricular as crianças
diretamente na 1ª série e comigo não foi diferente. Mal começávamos a trabalhar
nossa coordenação motora e logo partíamos para a cartilha. Nossa, lembro-me com
perfeição da capa desse material. Esta trazia estampadas duas crianças: um
menino e uma menina seguindo por um caminho que os levava até a porta de uma
escola, era a famosa cartilha “Caminhos Suaves”. Foi por meio desta cartilha e
com a boa vontade de Dona Ida que eu comecei a descobrir o mundo.
Outra figura muito
importante e marcante para mim, além de minha professora, foi de meu pai, um senhor
sem muitos estudos, que talvez, nos dias atuais fosse classificado como
analfabeto funcional, porém, com grande representação em minha educação. Não me lembro de vê-lo com livros nas mãos, entretanto,
me ensinou a ler. Todos os dias após a janta, ele sentava-se comigo na sala e
punha-me entre suas pernas, de posse da cartilha e com muito carinho e
paciência ajudava-me com os deveres escolares. Passávamos horas juntos lendo a
cartilha e fazendo os exercícios.
Acredito que este gesto dele tenha influenciado, inclusive, na escolha
da minha formação, pois meu desempenho escolar sempre foi melhor em Língua
Portuguesa e em matérias nas quais era necessária muita leitura.
Diante disso, ao ouvir
as entrevistas feitas por Gilberto Dimenstein identifiquei-me muito com o
entrevistado Gilberto Gil, pois ele relata a relevância que sua avó teve em sua
vida enquanto leitor. Talvez, um pequeno gesto de uma figura representativa na
vida de uma pessoa seja o suficiente para despertar algo que estava adormecido
dentro de nós. Não que nele estivesse, mas os momentos que ele passava com a
avó enquanto ela cozinhava contribuíram para desenvolver o seu lado intelectual.
Além do Gilberto Gil, não poderia, jamais, deixar de mencionar a senhora Clair,
que aos 80 anos encantou-se pela poesia. Posso dizer que, de certo modo temos
muito em comum. Ela descobrindo a poesia e eu, depois de muito tempo, o gosto
pelos estudos, leitura e outras coisas que devido aos caminhos da vida foram
afastadas de mim. O depoimento dela mostra que nunca é tarde para recomeçar e
desvendar coisas que antes não faziam parte de nossas vidas. Registro ainda,
que faço minha a declaração de Moacir Sclair na qual ele diz que o lixo é um
grande amigo do escritor. Inclusive, porque estou vivendo essa experiência
neste momento. Por fim, achei muito
relevante a colocação de Rubem Alves ao se referir à literatura como um ritual
antropofágico. Também acredito, porque é necessário deglutir, saborear,
conhecer os livros para que o hábito da leitura se torne um prazer e assim nos
permita “navegar por mares nunca dantes navegados”.
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